Saiu no Diário Oficial da União de hoje, 13 de agosto de 2020, o Edital nº 3 do Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata (CACD) 2020, que anuncia a suspensão do cronograma de aplicação das provas de todas as fases do concurso para diplomata. Trata-se de adiamento por tempo indeterminado, porque não foram anunciadas novas datas.
O documento diz o seguinte:
Novo cronograma de provas e atividades será objeto de novo edital, a ser divulgado oportunamente.
Edital nº 3 do CACD 2020, de 12 de agosto de 2020
O que isso significa? Como se planejar diante dessa indefinição?
Por que não foi divulgado novo cronograma de provas?
O texto do Edital de suspensão do concurso para diplomata é lacônico. Além disso, nada indica que possamos esperar qualquer explicação oficial do Itamaraty a respeito. Mas algumas informações relacionadas com o assunto são públicas, de modo que há indícios a explorar.
Primeiro: pelo menos três questionamentos judiciais ou pedidos de informação sobre a data inicialmente prevista para aplicação das provas da 1ª fase do CACD 2020 foram encaminhados ao Instituto Rio Branco e vieram a público (uma do MPF, outra da Procuradoria da República no Rio Grande do Sul e uma terceira do STJ).
Segundo: no último dia 7, o MPF tornou pública uma recomendação de adiamento da aplicação das provas do CACD 2020 encaminhada ao MRE. O documento, a princípio, não era público, mas já tinha circulado amplamente entre cacdistas por meio de diversas redes sociais. Enfim, às 16h25 da última sexta-feira, o próprio Ministério Público Federal divulgou, em seu site, a íntegra da Recomendação nº 30/2020, encaminhada ao Instituto Rio Branco e ao Iades na quinta-feira 6, e uma notícia que resumia os principais aspectos do assunto que fundamentaram a “sugestão”.
Terceiro: na Recomendação, o MPF sugeria que o IADES e o Instituto Rio Branco determinassem o “adiamento da realização” do TPS “até que a situação de crise sanitária provocada pela Covid-19 esteja minimamente controlada no país.”. Iades e IRBr teriam, a partir daí, cinco dias úteis para responder ao documento da Procuradoria da República no Distrito Federal.
Houve quem especulasse — antes mesmo dessa Recomendação do MPF vir a público — que o próprio Itamaraty já estivesse planejando o adiamento do CACD 2020, com aplicação da primeira prova em outubro, e que tal decisão (tomada previamente) seria publicada pelo IADES em breve. Eles estariam aguardando apenas o encerramento do período de inscrições, para garantir a receita oriunda daí, sugando os recursos dos candidatos, para logo em seguida comunicar o adiamento.
O raciocínio, além de maniqueísta (por supor um IADES malvado, mercenário e sorrateiro), estava associado a certa idealização das virtudes do IRBr, que nessa versão dos acontecimentos ficava isento de qualquer responsabilidade pela decisão (embora seja a instituição contratante da empresa que vai executar o concurso).
Mas, além disso, os fatos que vieram a público nos últimos dias indicam que a gloriosa “Casa” do barão não planejava adiar as provas não. Em resposta oficial à Procuradoria da República do Rio Grande do Sul, por exemplo, “o Instituto chegou a informar que pretendia manter a aplicação do exame para o dia 30 de agosto” (trecho reproduzido da notícia publicada pela Assessoria de Comunicação do MPF).
Então, resumindo o que sabemos a partir de informações tornadas públicas até hoje, 13/08/2020, às 7h, tudo leva a crer que:
(1) o Instituto Rio Branco pretendia manter a aplicação da 1ª fase do concurso desse ano no dia 30/08/2020;
(2) a data foi suspensa por recomendação do MPF.
Se essas duas premissas forem verdadeiras, então é lícito supor que não há novas datas de aplicação das provas do CACD 2020 porque a recomendação do MPF foi de adiamento “até que a situação de crise sanitária provocada pela Covid-19 esteja minimamente controlada no país.”. Como não há qualquer indicativo confiável hoje, no Brasil, de quando a “crise sanitária” estará “minimamente controlada”, não seria possível marcar novas datas agora sem arriscar um previsível atrito com o Ministério Público Federal, uma possível “judicialização” do concurso e, consequentemente, a provável perda de qualquer possibilidade de controle, por parte do MRE, sobre o planejamento das novas datas de aplicação das provas do CACD 2020.
O CACD 2020 vai ter um “novo” Edital?
Nos primeiros instantes após a circulação da notícia, alguns cacdistas, no “calor da hora”, chegaram a temer um “novo” Edital do CACD 2020, devido aos termos encontrados no Diário Oficial de hoje: “novo cronograma … será objeto de novo edital…”. Só pra constar, então, e por absoluto excesso de zelo, um comentário que em outra conjuntura poderia ser completamente dispensável: o Edital de abertura do concurso não foi anulado, nem suspenso. Suas regras continuam válidas, até segunda ordem. O que o ato de hoje introduz, formalmente, é apenas a suspensão do cronograma de provas. As datas previstas inicialmente no Edital estão suspensas. Novas datas serão divulgadas, não se sabe exatamente quando. Por ora, só isso. Mais nada.
O termo “edital”, no caso, é apenas a nomenclatura utilizada para formalizar alterações pontuais em relação ao texto do Edital do concurso. Por isso, o Edital de abertura foi o “Edital nº 1”; a retificação, publicada em 24/07/2020, que corrigia as datas e os critérios de correção das provas da 2ª fase do CACD 2020, foi o “Edital nº 2”; a “suspensão”, publicada hoje, consta do “Edital nº 3”.
Nada com o que se preocupar, portanto. Nenhuma pegadinha oculta. Nenhuma mudança à vista, além da alteração no cronograma.
Como se planejar agora?
Como reorganizar seu planejamento de estudos agora, diante da indefinição de datas?
Bom, enquanto não tivermos novo cronograma, qualquer projeção de datas será mera especulação. Eu sugiro que você trabalhe apenas com os fatos. A boataria vai rolar solta. Aliás, essa é uma das 3 máximas com que todo cacdista pode contar, há décadas: (a) todos os anos tem carnaval, e já houve dois no mesmo ano; (b) todos os anos tem CACD, e já teve dois concursos no mesmo ano; e (c) todo ano tem “vazamento” de notícias “quentes” sobre o CACD que depois mostram-se infundadas, e nunca rolou de serem menos do que dois no mesmo ano.
Então, em primeiro lugar, aproveite que você ganhou um tempo “extra” e respire. Nenhum brasileiro minimamente sensível tá bem enquanto o país disputa com os EUA quem tem o presidente mais negligente diante da pandemia. Então permita-se, por um breve momento, relaxar. Tira um dia de folga do CACD.
Mas não demore a voltar. Esse tempo “a mais” vai ser precioso. Por quê? Por vários motivos que serei incapaz de exaurir aqui. Alguns que me ocorrem agora:
- Você provavelmente tem tarefas já planejadas e um cronograma de estudos já traçado que não conseguiu cumprir à risca até agora, nem teria conseguido até o dia 30 de agosto — o que é absolutamente normal! Aproveite e use o tempo “bônus” para concluir as tarefas que você mesmo elencou como prioritárias nesse momento (e reavalie tais prioridades, claro, se for o caso, mas sem mudar radicalmente os planos);
- Nesse tempo que você teve, até hoje, para estudar para o TPS, certamente algumas dificuldades apareceram, “buracos” no seu material ficaram visíveis, deficiências na preparação foram (mais) notadas. Mas resista à tentação de tentar “tapar” todos os buracos de uma vez agora. Ou, pelo menos, não priorize isso. Priorize concluir o seu planejamento de revisões e, sobretudo, de análise dos exercícios objetivos que já caíram na prova em anos recentes. Em outras palavras: não atropele as coisas. Primeiro termina o que você começou, com ênfase para consolidar o que já aprendeu e para revisar, revisar, revisar. DEPOIS você planeja novas atividades, caso não tenhamos novo cronograma divulgado nas próximas semanas (o que é provável);
- Vou insistir, mesmo sendo repetitivo: priorize a revisão e priorize os exercícios objetivos de provas anteriores. São duas atividades que te ajudarão muito a converter em pontos aquilo que você já aprendeu até aqui. Deixe em segundo lugar, por enquanto, a busca por esgotar todos os assuntos que devem ser estudados. Você nunca vai se sentir 100% preparado para tudo o que pode cair na prova. Nenhum aprovado jamais chegou a sentir isso antes de passar no concurso para diplomata. Então convém ter a clareza de que é preciso progredir continuamente, sem voos de galinha. Na minha humilde opinião, esse tipo de raciocínio só não é válido para quem ainda está num estágio inicial da preparação, ou seja, para quem ainda não “percorreu”, pelo menos uma vez (ainda que superficialmente), todos os conteúdos programáticos de cada disciplina previstos no Edital do concurso;
- A depender de quanto tempo durar esse adiamento (ainda) indefinido, me parece que pode ser o caso de começar a conciliar, antes do TPS, o treino para as provas objetivas com o treino para as provas discursivas. Via de regra eu não acho que isso deva ser feito nessa época específica. A preparação para a 2ª e a 3ª fases pode e deve constar da sua rotina de estudos desde o início, na minha opinião. Mas especificamente no curto intervalo de poucas semanas que costuma haver entre a publicação do Edital e a aplicação das provas objetivas da 1ª fase do concurso, eu costumo recomendar aos meus alunos que busquem focar na preparação para o TPS (exceto para aquele seleto grupo de felizardos cacdistas que conseguem passar pela barreira da 1ª fase com facilidade todos os anos, regularmente, e que representam menos de 1% dos candidatos inscritos). Mas pode ser que um novo cronograma de provas do CACD 2020 ainda demore, e/ou que ele preveja um intervalo menor entre as provas objetivas e as provas discursivas. Por esses motivos, a depender da evolução dos acontecimentos — e a depender, sobretudo, da sua avaliação sobre o “estágio” da sua preparação —, pode fazer muito sentido conciliar um cronograma de revisões para a 1ª fase com um cronograma de atividades voltadas especificamente ao treino de exercícios discursivos;
- Por fim, e sem qualquer pretensão de esgotar as consequências da notícia de hoje para o seu planejamento de estudos, eu tenho a impressão de que pode ser crucial, nesse momento, organizar uma rotina de revisões espaçadas. Além de ser a técnica de estudo mais rápida e mais eficaz para memorizar a quantidade de informações que um concurso como o CACD exige, ela pode te ajudar a preservar, por um período indefinido, os potenciais benefícios que você acumulou até agora na sua preparação.
Algumas sugestões de conteúdos
Mesmo que eu e todos os seus professores e professoras tentem fazer sugestões e encaminhamentos, é óbvio que a notícia de adiamento das provas, somada à indefinição sobre as novas datas, vai ter um peso nesse momento.
Só você saberá qual a melhor forma de lidar com isso, no seu caso, diante das suas demandas e inquietações específicas.
Mas, no limitado escopo daquilo em que eu posso te recomendar alguma coisa de útil, vou tentar reunir algumas sugestões de conteúdos a que você pode eventualmente recorrer como balizas seguras. Se não ajudarem, certamente não vão atrapalhar — o que já é muito bom. Use com moderação e apenas em caso de necessidade:
- o Taciano Zimmermann, que passou em 2º lugar no CACD 2019, fez um relato inspirador da sua trajetória em que conta, mostra na tela e explica como planejou o seu cronograma intensivo de revisões pré-TPS no ano em que foi aprovado: começa por volta dos 52 min. do vídeo publicado na íntegra aqui;
- o Ivan Clavery, também aprovado no CACD 2019, contou como conciliou os estudos com uma rotina de 8 horas diárias de trabalho durante a maior parte do tempo em que se preparou para o concurso e, sobretudo, como ele alternou os períodos de maior e menor intensidade dos estudos. Ele contou, particularmente, sobre como lidou com esse momento da preparação em que você deve estar agora, de já ter um material/caderno preparado, ter pouco tempo e ter que repensar suas prioridades, tensões, angústias e expectativas acumuladas. Essa parte específica do depoimento do Ivan começa por volta dos 45 minutos do vídeo que também foi publicado na íntegra recentemente;
- sempre, a qualquer momento, em qualquer estágio da preparação, o Edital é sua referência prioritária para tudo relativo à preparação para o CACD. Se você ainda não se permitiu ler a lei maior do concurso na íntegra, agora será um bom momento de fazê-lo. Eu analisei algumas dos aspectos e mudanças mais importantes do Edital do CACD 2020 em outro post aqui do blog, mas recomendo que você esteja familiarizado com o texto do próprio documento.
- se, e somente se, você julgar que chegou a hora de começar a conciliar a preparação intensiva para o TPS com atividades relacionadas à preparação intensiva para as provas discursivas, recomendo enfaticamente que você incorpore a leitura e análise dos guias de estudos à sua rotina, quase como “livro de cabeceira”. Nesse caso, tem um outro post aqui no blog onde eu agrupei materiais que a meu ver são pontos de partida seguros e absolutamente prioritários no estudo para as provas discursivas: modelos de folhas de resposta de questões discursivas, atualizados de acordo com as mudanças que o IADES introduziu em 2019; listagem e links de todos os guias de estudos extraoficiais já publicados até agora; e, num nível mais aprofundado, um vídeo sobre como a correção das provas discursivas de conhecimentos específicos da 3ª fase, a partir de 2018, passou a contabilizar as notas “quebradas”, em modelo objetivo de correção que foi aprofundado ainda mais na “era IADES”. Acesse tudo isso clicando aqui.
Observação final: caso você avalie, nessa conjuntura específica, que agora é o momento de aproveitar esse tempo “extra” para fazer um curso intensivo com base em exercícios objetivos que já foram cobrados em anos anteriores, o meu curso de História do Brasil e História Mundial voltado especificamente para o TPS de 2020 vai continuar com as inscrições abertas. Ele reúne um conjunto de 32 aulas (16 de HB e 16 de HM) que foram gravadas ao vivo, com dúvidas e interação em tempo real. Cada aula variou entre 1h30 e 2h10 de duração e girou em torno da análise detalhada do histórico das questões de História, separadas por tema, com indicações bibliográficas extremamente seletivas para cada tema em particular (escolhidas a partir dos livros de onde a banca tem tirado parte significativa das questões do TPS). A partir das prioridades elencadas com base apenas no que já caiu na prova (sem nenhuma questão inédita), as aulas desse curso também foram dedicadas à revisão dos temas mais recorrentes e à apresentação de alguns dos detalhes mais específicos que as questões objetivas de História têm explorado recentemente. Alguns exemplos:
- o sistema partidário norte-americano no período inicial da história independente dos EUA;
- as disputas imperialistas na China de fins do século XIX;
- as interpretações sui generis do significado do Concerto Europeu que a banca tem considerado válidas na prova (e de que livros, especificamente, elas saíram).
Esses são apenas alguns dos exemplos de temas da última prova de 2019 que foram objeto de revisões ou/e de sínteses mais aprofundadas. Eles tiveram origem em demandas apresentadas pelos alunos da turma com base na sua experiência de submeter-se a provas objetivas nas quais as questões de História (do Brasil e Mundial) têm somado 30% dos pontos em disputa. Além disso, o curso também inclui uma sugestão de cronograma de 60 dias em ritmo intensivo, articulando algumas das técnicas de estudo mais difundidas na preparação para concursos de alta performance que eu julguei adequadas e aplicáveis à realidade do CACD. Veja mais detalhes na página com o descritivo completo e o vídeo de apresentação do curso.
Luigi, muito obrigada por este post tão completo sobre a nova reviravolta do CACD 2020. Sigo os estudos mais confiante sabendo que posso contar com você.
Bjos!
eu que agradeço pela confiança, Rane 😉