crédito: Tumisu / Pixabay

Locais de prova e relação candidato/vaga do CACD 2019

Luigi Bonafé • Atualizado em 1 dez 2023 às 23h59Publicado em 28 ago 2019 às 6h21

Agora é oficial: saiu no DOU o Edital n. 2 do CACD 2019, com a confirmação da data de aplicação e a divulgação dos locais de prova da 1ª fase do concurso para diplomata deste ano terrível.

Desde ontem você já pode também emitir seu comprovante de inscrição com o local de prova, no site do Iades.

 

Relação candidato/vaga recorde

Ontem também foi publicada oficialmente a quantidade de inscritos no certame (6.411), confirmando o recorde de candidatos por vaga comemorado pelo chanceler olavete do governo Bolsonaro: 320 inscritos para cada vaga em disputa. No ano passado tinham sido 5.294 inscritos para 26 vagas, ou seja: “apenas” 203 candidatos por vaga. Assusta, né?

No ano passado tinham sido 5.294 inscritos para 26 vagas, ou seja: “apenas” 203 candidatos por vaga

Mas será que isso muda alguma coisa na sua preparação? Sem achismos nem clichês motivacionais, vamos analisar os números para descobrir.

 

  • A última vez em que houve mais inscritos do que neste ano foi no CACD 2013, quando 6.490 aspirantes a diplomata concorreram a 30 vagas.
  • No auge da demanda, quando o CACD oferecia mais de 100 vagas, o recorde de inscritos foi alcançado em 2009: 9.196 pessoas disputaram 105 vagas.
  • O recorde de candidatos por vaga foi atingido dois anos depois, ao esgotar-se o ciclo das “turmas de 100”. Foi no CACD 2011, quando 7.180 pessoas disputaram 26 vagas: foram 276 aspirantes a diplomata para cada vaga em disputa.

Diante desses números, como medir a influência da relação candidato/vaga sobre o grau de dificuldade para estar entre os pouquíssimos aprovados em cada ano?

 

Mais candidatos = aumento da nota mínima para passar?

Impossível estabelecer esta relação de maneira exata, mas a maneira mais racional de tentar chegar perto disso é comparando a relação candidato/vaga com a nota mínima necessária para passar no concurso em cada ano. A equipe do Estudologia já tentou fazer essa conta. Reproduzo abaixo o gráfico que eles divulgaram, mas você pode ver o estudo completo no hotsite “Raio-X do CACD“:

relacao c v x nota de corte final estudologia

Demanda por vaga/Corte da nota final (fonte: Estudologia)

 

O estudo concluiu então que, embora seja razoável supor que quanto mais candidatos inscritos, maior tenderia a ser a nota mínima para passar, os dados não confirmam essa relação: “Após normalizar as notas finais, considerando-as em percentual, o resultado (…) apresentou correlação moderada entre as duas variáveis. A demanda por vaga não é tão determinante na dificuldade do concurso.”

“mais relevante que muitos candidatos disputando a mesma vaga é o número total de vagas ofertadas” (Estudologia)

Qual seria então a variável mais determinante para definir o nível do “corte” da nota final do concurso? A equipe da Estudologia seguiu investigando e, depois de fazer as contas, foi taxativa: “Quanto menos vagas ofertadas, mais alta é a nota final necessária para ser aprovado”. Ou seja, para definir qual vai ser a nota final mínima necessária para estar entre os aprovados no CACD, “mais relevante que muitos candidatos disputando a mesma vaga é o número total de vagas ofertadas”.

A julgar por esse critério, é lícito supor, então, que o CACD 2019, ao menos nesse quesito, provavelmente não será recordista. Afinal, o menor número de vagas da história recente do CACD foi em 2014, durante o governo Dilma, que tanto prestigiou o Itamaraty: 18 vagas.

Qual a influência da relação candidato/vaga sobre a nota de corte do TPS?

Mas vamos um passo além dessas contas… o seu primeiro obstáculo não é o nível do “corte” na nota final, mas sim a nota de corte da 1ª fase, cujo epíteto de “TPS” foi consagrado pelo uso. Então cabe analisar se há alguma relação entre esse valor e a quantidade de inscritos, ou a relação candidato/vaga, ou o número de vagas oferecidas a cada ano.

Analisando exclusivamente os resultados do TPS nos últimos 10 anos, algumas conclusões ajudam a refletir sobre isso:

  • não há relação direta entre a quantidade de candidatos inscritos para cada vaga e a nota de corte no TPS: no auge, quando foram 276 candidatos por vaga (CACD 2011), a nota de corte no TPS foi de 62,8%. Em 2016, quando a relação candidato/vaga caiu para menos de 170, a nota de corte no TPS foi virtualmente a mesma: cerca de 61,3%.
  • também não há relação direta entre a quantidade de candidatos aprovados na 1ª fase e a nota de corte nessa etapa. No CACD 2014, o funil do TPS foi estreitíssimo: apenas 100 pessoas passaram para a 2ª fase do concurso. Mas a nota de corte de uma fase para outra manteve-se naquele mesmo padrão de 2011 e de 2016: cerca de 63,7%. No ano seguinte (CACD 2015), além disso, foram 300 aprovados no TPS e a nota de corte subiu quase nada: 64,4%.
  • os dados também não confirmam a hipótese de que quanto mais candidatos inscritos, ou quanto maior a relação candidato/vaga, maior é a nota de corte no TPS. Em 2006, com menos de 60 candidatos por vaga, só passou da 1ª fase quem alcançou 68,9% dos pontos em disputa no TPS. Em 2018, por contraste, foram 203 candidatos por vaga, mas a nota de corte do TPS, ao invés de aumentar, diminuiu: chegou ao patamar historicamente baixíssimo de 57,1%.

em 2009, a relação candidato/vaga foi menor do que 90 e a nota de corte no TPS chegou a 68%. Em 2018, foram 203 c/v; mas a nota de corte “caiu” para 60%

  • mais importante ainda: essa coincidência entre aumento da relação candidato/vaga e diminuição da nota de corte no TPS não foi exceção. Por exemplo: em 2009, a relação candidato/vaga foi menor do que 90. A nota de corte no TPS daquele ano chegou a 68,4%. Anos depois, no CACD 2015, quando a relação candidato/vaga mais do que dobrou (passou de 200), a nota de corte da 1ª fase “caiu” para 64,4%. E, no ano passado, com mais de 203 candidatos por vaga, a nota de corte do TPS “caiu” ainda mais, para 57,1%.

 

O que os números permitem concluir?

Conclusão: um enorme aumento da relação candidato/vaga não resulta, historicamente, em incremento da nota de corte do TPS e nem necessariamente da nota final mínima para tornar-se diplomata. Na ponta do lápis, a verdade é que até mesmo o inverso pode acontecer, como os dados acima evidenciam.

Então agora, diante dos dados quantitativos, você pode tirar suas próprias conclusões sobre o que se pode esperar do CACD 2019 em termos de dificuldade, comparativamente. Pense sobre esses números e conte nos comentários se você chegou a conclusão parecida ou não. Se considerar que é muito difícil analisar os dados sozinho, compartilhe o post com algum colega e vamos debater no espaço abaixo, para descobrir juntos outras variáveis que expliquem as variações históricas reveladas por esses e outros dados.

Sobre o autor: Luigi Bonafé - aprendacom@luigibonafe.com

Eu sou um professor de História apaixonado pelo desafio de redescobrir o magistério e desvendar a banca do CACD a cada ano. Desde 2007 dou aulas especificamente para quem quer ser diplomata. De lá pra cá, as provas do concurso mudaram muito, e os candidatos também. Como professor, eu fui mudando junto. Desde 2015 passei a lecionar nos cursos teóricos extensivos do IDEG, que ajudaram a revolucionar os fundamentos da preparação para o concurso de diplomata. Desde 2016, em plataforma própria e independente de cursinhos, criei um método de preparação para as provas discursivas de História do Brasil do CACD. Esse método foi aplicado por todos os candidatos que obtiveram as notas mais altas nas provas discursivas de HB dentre os diplomatas aprovados em 2016, 2017, 2018, 2020/2021, 2022 e 2023. Me deixa te contar um pouco mais dessa história...

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